segunda-feira, 26 de julho de 2010

Fotos Festa Inverno

Estava um frio horroroso neste dia, por isso tantos casacos rsrs mas estávamos lá, enfrentando o trabalho pela nossa Associação!
Igor, Aurélia, Adriana e Paulo.
Nosso excelentíssimo Jacaré Gularstone!
 
Daniel nos apoiando no suco e nas bebidas.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

BARRACA NA FESTA INVERNO 2010!

A Associação Franco Rotelli, entidade que atua na área da saúde mental, tanto em ações políticas ligadas à Luta Antimanicomial como ações que visam à melhoria da qualidade de vida de usuários dos serviços de saúde mental da região, vem convidar a todos a prestigiar nossa barraca conquistada na Festa Inverno de Santos, realizada pelo Fundo Social de Solidariedade!
A Festa Inverno ocorrerá entre os dias 4 de julho e 1º de agosto, de 3as a domingo, das 18h às 24h, no terreno ao lado da Portuguesa Santista. A Associação FR terá uma barraca, a de número 27, ao lado do palco, e estará servindo espetos de carne, frango, lingüiça, pernil no pão, hot-dog, batata-frita, suco de laranja, refrigerantes, cerveja, vinho quente e quentão.
Estaremos nesta festa para angariar fundos para encaminhar as ações e projetos da Associação, e desta forma atuar de maneira mais efetiva com pessoas em sofrimento psíquico, e população em geral que queira se inteirar e participar de projetos socio-culturais.
Contamos com sua presença!

ASSOCIAÇÃO FRANCO ROTELLI - Fazendo gols pela qualidade da saúde mental!

http://www.santos.sp.gov.br/hotsites/inverno2010/

Em breve, fotos do evento!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

CARTA À RENILA

Brasília, 31 de março de 2010.

Como representantes da RENILA - Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial, que compõe a Comissão Organizadora da IV Conferência Nacional de Saúde Mental, trazemos algumas preocupações da primeira reunião.
Como membros de uma Comissão que pensa a construção de uma Conferência Nacional de Saúde Mental que venha refletir aquilo que todos que militam no campo da saúde mental pensam e desejam como Política Pública para o Brasil. Como legítimos representantes dos usuários e familiares nesta Comissão, não podemos aceitar certas práticas e ações que venham desconsiderar e até ignorar os movimentos sociais que construíram, ao longo de varias décadas, a Reforma Psiquiátrica neste país. E, agora, às vésperas desta tão importante Conferência, fruto da luta e da mobilização de usuários e familiares, venham alguns, tentar tirar da Conferência a essência da nossa Luta e do nosso existir enquanto movimento social que é o de ser ANTIMANICOMIAL.
Não podemos enxergar uma Reforma Psiquiátrica eficiente, que avance, se não tivermos como ponto de partida prática e ações antimanicomiais, mas, os que estão no Poder (Gestores) da construção desta Conferência não pensam assim. Por diversas vezes, durante a primeira reunião da Comissão Organizadora da IV Conferência, dias 4 e 5 de março, em Brasília, quando se discutiu a questão dos Eixos e Sub - eixos, onde tentamos acrescentar, eu e Cirlene, no Eixo I, no Sub eixo 9, onde diz: “Reforma Psiquiátrica e o SUS”, propomos: Reforma Psiquiátrica Antimanicomial e o SUS. Fomos completamente desconsiderados e, assim cada vez durante a reunião que tentávamos incluir nos Eixos e no temário algo que reafirmasse o termo Antimanicomial, éramos desconsiderados.
No dia seguinte, pela manhã, ao serem apresentados os integrantes da mesa diretora e executiva da Conferência, constatamos que não tinha usuários no Comitê Executivo. Então sugerimos que fosse colocado um representante dos usuários no referido Comitê. Tivemos que lutar e argumentar para incluir os protagonistas da IV Conferência Nacional de Saúde Mental no Comitê Executivo quando, deveríamos já estar na composição por legitimidade conquistada, mas, não. Sentimos como se estivéssemos participando da construção de uma outra Conferência, de um outro assunto onde seriamos estranhos ao tema.

Concluímos que, ao não aceitarem a inclusão do termo e o ideário Antimanicomial em textos e na Programação da IV Conferência, estejamos dando um enfoque de uma Reforma Psiquiátrica SEM DIREÇÃO, SEM O NORTE DA POLÍTICA e QUERENDO contemplar a OUTROS interesses, NOTADAMENTE daqueles que durante muitos e muitos anos nos torturaram e que querem manter práticas excludentes dentro de seus manicômios.

E, é por tudo isso que estamos pedindo ajuda ao Colegiado RENILA, pensamos que em nome de todos os usuários que lutam por uma Reforma Psiquiátrica Antimanicomial e por uma IV Conferência DEMOCRÁTICA, que venha contribuir para a Reforma Psiquiátrica que leve a todos para fora dos manicômios e não para dentro deles.

Pedimos que se mobilizem no sentido de termos garantidos os nossos direitos e de termos uma Conferência Antimanicomial.

Vamos nos articular. Vamos às ruas. Vamos mandar nossas justas reivindicações para a Secretaria Geral da Conferência. Não vamos permitir que nos tire aquilo que construímos no Coletivo: a IV Conferência Nacional de Saúde Mental.

Abraço grande e boa luta a todos
Paulo Michelon – Antimanicomioló go, Integrante da Comissão Organizadora da IV Conferência Nacional de Saúde Mental Intersetorial e Comitê Executivo da IV Conferência Nacional de Saúde Mental

Cirlene Ornelas - Representante do segmento familiares na Comissão Organizadora da IV Conferência Nacional de Saúde Mental Intersetorial e da Subcomissão de Programação

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Conquistas da Marcha

Marcha conquista IV Conferência de Saúde Mental e retoma a urgência do fim das torturas

Tendo reunido 2300 pessoas na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, com música, dança, bonecos, cartazes e faixas defendendo as formas de tratamento que substituem o velho manicômio e permitem o convívio social aos portadores de transtorno mental, a Marcha dos Usuários pela Reforma Psiquiátrica Antimanicomial fez acontecer o que parecia improvável: pessoas chamadas loucas, inválidas, com histórias de internações, vieram a Brasília e foram recebidas pelo Planalto, em dez audiências em ministérios, na Câmara e no Senado.

De invisíveis, como bem apontou Gilberto Carvalho, chefe do gabinete pessoal do presidente da República que recebeu 35 manifestantes, os usuários da saúde mental conquistaram lugar de cidadãos. Foram ouvidos, o governo deliberou com eles. Marcharam organizadamente, apresentaram pautas precisas, conhecedores que são da situação real das políticas públicas a eles destinadas – ou das que precisam ser criadas, como é o caso das relacionadas à subsistência, renda e economia solidária.

A vitória imediata da Marcha foi o compromisso com a realização da IV Conferência Nacional de Saúde Mental ainda nesse governo, assumido por Gilberto Carvalho com anuência do presidente Lula. Carvalho mostrou-se sensível às denúncias de mortes e torturas em hospitais psiquiátricos. Eles ainda recebem metade da verba da saúde mental, proveniente do Sistema Único de Saúde, sem que recuperem os pacientes internados, como de fato fazem os serviços abertos como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), quando estão estruturados e em funcionamento.

Sobre a persistência de tortura e maus tratos, Carvalho se disse “assustado” com o que ouviu e assumiu a tarefa de colocar o tema para o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, responsável pela implementação da Reforma Antimanicomial. Paulo Vannuchi, secretário especial de Direitos Humanos, ressaltou que a tortura se alimenta da impunidade e se comprometeu a estruturar o tratamento do tema na secretaria, em diálogo, sobretudo, com o Ministério da Saúde.

Com relatos vivos, a marcha conseguiu colocar na pauta do governo federal a necessidade da Reforma Psiquiátrica, instituída por lei em 2001 pela Lei 10.126. Dossiê apresentado pelo Instituto Damião Ximenes, do Ceará, sobre o município de Ipueiras, trouxe imagens de pacientes encarcerados em celas, sem acompanhamento médico, psicológico ou condições de higiene. A cidade tem um Caps que recebe visita de psiquiatra três vezes ao mês, sem, portanto, ter estrutura profissional para atender nem mesmo os pacientes em tratamento.

Na audiência com a ministra interina da Saúde, Márcia Bassit, os manifestantes argumentaram que, ao pedirem celeridade para a Reforma, não tratam do tempo que querem, mas do tempo necessário par evitar mortes nos hospitais psiquiátricos. A implementação da reforma seria acelerada com o pleno funcionamento dos Caps; com a solução da constante falta de verbas para as atividades na ponta; qualificação dos profissionais; e abertura de Caps III, que realizam atendimento 24 horas.

Os usuários, cujas organizações são agregadas pela Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial, não têm dúvidas da importância dos diálogos sobre a defesa da Lei 10.216/91, sobre a necessidade do fim das interdições judiciais ou do desenvolvimento das políticas de assistência, como o Programa de Volta para Casa, que tem por objetivo reintegrar socialmente usuários que passaram por longas internações.

A estes temas somam-se o fim dos manicômios judiciários e o acesso ao tratamento de saúde mental, nos moldes da Lei 10.216, para portadores de sofrimento que estejam respondendo a processos ou cumpram penas. Todos os pontos foram pautas das audiências com os ministérios da Justiça, do Trabalho, Cultura, Desenvolvimento Social, INSS, Conselhos Nacionais de Secretarias Municipais de Saúde e de Secretários de Saúde, que também receberam a marcha e se propuseram a caminhar no esforço de incorporar a realidade da saúde mental em suas atividades.

Terminadas as audiências, os usuários, agora marcados pela experiência da possibilidade de ação coletiva, seguem presentes, atentos, sobretudo visíveis. Neste 10 de outubro, quando os países celebram o Dia Mundial da Saúde Mental, esperamos que o momento marcante de tomada de voz pelos usuários, no Brasil, marque a retomada do andamento da Reforma Psiquiátrica Antimanicomial.

Humberto Verona – Presidente do Conselho Federal de Psicologia
Nelma Melo – Coordenação da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (Renila)
Texto publicado no Blog da Renial.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Marcha dos Usuários à Brasília

No dia 30 de setembro de 2009 ocorreu a Marcha dos Usuários a Brasília, e os partipantes do Núcleo e da Associação Franco Rotelli estiveram presentes.
Nossa comitiva de 22 pessoas, formada por técnicos e usuários dos serviços de saúde mental, saíram de Santos e se encontraram com a comitiva do ABC, em Santo André, seguindo então para Brasília.

Seguem as fotos dos principais momentos:











A Marcha conseguiu mobilizar conquistas pela saúde mental através das audiências e reuniões com os ministros e deputados, e por fim com o Secretário do Presidente, onde foi conquistada a 4a Conferência de Saúde Mental e a continuidade do programa "De Volta para Casa".
Na próxima 3a feira, dia 20, o programa Profissão Reporter mostrará a reportagem que fizeram neste evento. Confiram!

Abraços antimanicomiais!

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Marcha dos Usuários dos serviços de saúde mental à Brasília

http://marchadosusuarios.blogspot.com

REDE NACIONAL INTENÚCLEOS DA LUTA ANTIMANICOMIALMARCHA DOS USUÁRIOS À BRASÍLIA – POR UMA REFORMA PSIQUIÁTRICA ANTIMANICOMIAL.
Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial – RENILA, com apoio de diversas entidades, está organizando para o dia 30 de setembro de 2009, a Marcha dos Usuários à Brasília – Por uma Reforma Psiquiátrica Antimanicomial e conclama a todas as organizações, entidades e associações de usuários e familiares para se organizarem e Marchar rumo a Brasília.Neste momento, forças contrárias à Reforma Psiquiátrica Brasileira, em movimento organizado, utilizam os meios de comunicação de massa, numa verdadeira campanha para frear e desacreditar o Sistema Único de Saúde – SUS e nossas conquistas da Luta Antimanicomial.Nesses meios de comunicação são ouvidas autoridades e profissionais “doutores na matéria”. Casos mal sucedidos são pinçados e apresentados como regra, fragilizando o trabalho desenvolvido e influenciando negativamente a opinião pública, contra os avanços da Reforma Psiquiátrica.A voz do usuário nunca aparece. Suas entidades não são procuradas pelos jornalistas e suas opiniões não são consideradas. Chega de covardia! Chega de manipulação da informação. Os usuários dos Serviços de Saúde Mental exigem que suas opiniões sejam levadas em consideraçãoOs usuários durante anos, foram vítimas do abandono e da violência das internações psiquiátricas em hospitais asilares ou modernizados. São eles quem pode dizer o que querem. São eles, os que hoje frequentam os Serviços Substitutivos e que tem sua cidadania e inclusão social potencializada, é quem pode dizer que a Reforma Psiquiátrica Brasileira se constitui num patrimônio técnico, ético e político, do qual não estão dispostos a abrir mão. São eles, os usuários e familiares da Luta Antimanicomial, a prova viva de que os loucos podem viver em sociedade e que podem ser tratados em liberdade e com cidadania. Exigimos que a voz do usuário seja ouvida!Por isso a RENILA convida para juntos chegarmos em Marcha rumo a Brasília, partindo de todo o Brasil, onde durante todo o dia participaremos de atividades político-cultural e mostraremos nossa Força.A Marcha é um espaço de visibilidade expressão política dos usuários de Saúde Mental e suas organizações junto ao Governo Federal e a sociedade, com a finalidade de: defender o SUS, a Lei 10.216/01, reivindicar a realização da IV Conferência Nacional de Saúde Mental, a Reforma Psiquiátrica Antimanicomial, evidenciar o protagonismo dos usuários e fortalecer a Organização Política dos Usuários.Vamos organizar caravanas para que os verdadeiros protagonistas possam se apresentar em Brasília, de corpo presente, suas vozes e suas reivindicações, levando ao Presidente Lula e demais autoridades legislativas e judiciárias a disposição de luta em defesa de seus direitos.Se você quer ser ouvido e lutar por uma Reforma Psiquiátrica Antimanicomial, organize sua caravana! Ajude a construir essa Marcha!Informações pelos e-mail: marchadosusuarios@gmail.com ou "Deusdet: deusdetm@gmail.com "Vera Lúcia": vlmento@yahoo.com.brAssociação Chico Inácio (AM)Associação. dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de João Monlevade (MG)Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais (MG)Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental do Estado de Goiás (GO)Associação Verde Esperança (MG)Associação Loucos por Você (MG)Fórum Cearense da Luta Antimanicomial (CE)Fórum Gaúcho de Saúde Mental (RS)Fórum Goiano de Saúde Mental (GO)Fórum Mineiro de Saúde Mental (MG)Instituto Damião Ximenes (CE)Movimento dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental da Bahia (BA)Movimento Pró-Saúde Mental do Distrito Federal (DF)Núcleo Antimanicomial do Pará (PA)Núcleo da Luta Antimanicomial da Paraíba (PB)Núcleo de Estudos pela Superação do Manicômio (BA)Núcleo Estadual de Saúde Mental (AL)Núcleo Estadual do Movimento da Luta Antimanicomial (RN)Núcleo Libertando Subjetividades (PE)Núcleo Por Uma Sociedade Sem Manicômios (SP)

terça-feira, 14 de julho de 2009

Reportagem


Ex-internos da ''casa dos horrores'' relatam a vida depois do hospício
Interdição no Anchieta, em 1989, iniciou reforma psiquiátrica, mas SP ainda tem 6.349 vivendo em hospitais




Adriana Carranca


Duas décadas após a intervenção na Casa de Saúde Anchieta, em 1989, marco inicial da reforma psiquiátrica no Brasil, há ainda 6.349 pacientes "de longa permanência" internados em São Paulo - 77,6% deles há mais de dez anos. Somente duas das 58 instituições no Estado não têm residentes. Em alguns casos, eles vivem isolados e sob o olhar de vigias. Segundo dados do último censo da Secretaria de Estado da Saúde, há registros de exploração de mão de obra gratuita, velada como atividade psicossocial. Do total, 70% são analfabetos.

Ex-internos do Anchieta, Hercílio, João e José conhecem bem essa realidade. Localizados pelo Estado, eles lembram a experiência no manicômio conhecido como "casa dos horrores", há 20 anos, e contam como vivem desde então.



MENTE PARADA

"Treze anos, foi? Treze?", repete, como em tudo, Hercílio Santos Trindade, de 48 anos, 13 deles marcados por alta medicação e uma sequência de choques que o fizeram perder a noção do tempo vivido na Casa de Saúde Anchieta. Hercílio põe as mãos na cabeça e faz com a boca um chiado estridente, tentando mostrar como eram as sessões. "Eu tinha pra mim que não dói, não dói, não... Era bom, bom pra acalmar." E solta uma frase com estranha lucidez: "A mente parada pensa em tudo."

O motivo da internação, aos 19 anos: uso abusivo de maconha. O pai, rígido, dava surras que o faziam desmaiar. Quando a mãe o flagrou com droga e ameaçou contar ao pai, ele a agrediu e acabou internado. Em seu prontuário, constam anotações como "paciente há três anos sem visita" e "com alta, mas família não o aceitou".

"Foi complicado o processo de volta, mas depois vi esse pai chorar abraçado ao filho, dizendo que não o deixaria mais", lembra o arte-educador Renato Di Renzo, que deu início à intervenção no Anchieta. "No hospício, Hercílio era um homem embrutecido." Bem diferente de Tim Maia, como é chamado hoje por amigos da usina de reciclagem onde trabalha, dado seu tamanho e vozeirão.

Após a morte do pai, Hercílio construiu, com verba do Programa De Volta para Casa, quarto e banheiro no quintal da irmã e passou a se cuidar sozinho. "Seis e meia estou de pé, tomo um cafezinho, fumo um cigarrinho, pego o 108 (ônibus) até o terminal, depois o 105 e, pra voltar, o 55", diz, com surpreendente clareza. "Amanhã é dia de remédio", quando vai a um dos Núcleos de Apoio Psicossocial (Naps), que substituem o atendimento no hospício, para uma injeção mensal. "Primeiro a mente, primeiramente...", filosofa.

Com trajetória semelhante, João da Paixão, de 46 anos, há 2 vive com Janete de Jesus, que tem transtornos dissociativos. Um ajuda o outro no apartamento de um cômodo que alugam com parte dos R$ 600 ganhos, cada um, na usina de reciclagem. A cooperativa tem apoio da Seção de Reabilitação Psicossocial (Serp) da Prefeitura de Santos e mantém 180 pacientes em projetos de geração de renda. "O foco não pode ser a loucura, mas o homem, sua saúde geral, sociabilidade, trabalho, vida", diz a chefe do Serp, Maria Maura Porto Ferreira.

João levanta às 4h, faz café e esquenta o pão. Quando Janete sai do banho, está tudo quentinho na mesa, junto às flores. Como a saúde dele é melhor do que a dela, ele controla os remédios de ambos. Há um mês, Janete teve um surto. "Com a minha experiência, eu já sei quando vai acontecer e como cuidar dela", diz João. Após oito dias, Janete recuperava o equilíbrio, diferentemente de internações anteriores, a primeira de seis meses, a segunda, de dois. "No Anchieta? Lá a gente vivia mesmo era amarrado", diz João.

José Gonçalo, cantor e compositor que atende pelo nome artístico de Jacaré Gularstone, nos recebe com seu primeiro CD, Paz e Amor. Mas, antes de qualquer pergunta, desabafa: "Rico tem stress, pobre é louco esfarrapado. Entende?" E desenrola num fraseado lento a dureza de sua vida, desde as primeiras batucadas na carteira da escola, no Recife. Aos 25 anos, Jacaré foi diagnosticado com "transtorno delirante persistente" e internado.

"A gente até passava pelo médico, mas antes já tomava um sossega-leão (choque) para não dar trabalho. Eu achava que ia morrer lá dentro." Mas, quando se viu na rua, dois anos depois, ficou "desorientado" e quis voltar. A reintegração teve a ajuda de uma vizinha "quase mãe". Mesmo assim, vieram a depressão e um novo surto. "Foi aí que o doutor Sérgio Prior (psiquiatra do Naps) disse: ?Jacaré, a música!? E eu lembrei que podia ser artista."


Fez sucesso na Rádio Tam Tam, criada por Di Renzo e tocada por ex-internos, que fizeram mais de 300 shows no Brasil e foram parar no The New York Times. Sem apoio, a rádio está desativada. "Era loucura. Quando a gente chegava, perguntavam: cadê os loucos? Porque a imagem da loucura era de gente suja, babando", diz Di Renzo. Jacaré virou ativista da luta antimanicomial e manteve-se artista. Mostra a carteirinha da Ordem dos Músicos do Brasil e, com ela, batuca trechos de Borracha: "Borracha pra quê?/ a ditadura acabou/ vivemos democracia/ o povo quer liberdade/ dançando alegria".

Reportagem disponivel em: